quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quem não gosta de Barthes, bom sujeito não é...

A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção de um duplo contato: de um lado, toda uma atividade do discurso vem, discretamente, indiscretamente, colocar em evidência um significado único que é "eu te desejo", e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir (a linguagem goza de se tocar a si mesma); por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, prolongo esse roçar, me esforço em fazer duraro comentário ao qual submeto a relação. (BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1984. 4 ed, p.64)

No intuito de ilustrar o conceito de linguagem, Roland Barthes, no fragmento supracitado, vale-se de analogias com os aspectos físicos do corpo, obedientes a comandos do ciente e do inconsciente, passíveis de desejos e carentes de necessidades, e, desta forma, mostra que  linguagem é viva e dotada de movimentos. Assim, esclarece como a mesma ultrapassa, no âmbito do discurso, a sua mera forma canônica e gramatical.
A "linguagem como pele" apresenta-se com um caráter tátil, não só exposta ao tato alheio como também dotada da capacidade de estimular o tato do outro, bastando, com este, entrar em contato. Esta seria, portanto, a atividade discursiva, o "roçar". A "emoção de um duplo contato" configura-se na realização plena do discurso, que desperta os mais variados sentidos que as palavras podem adquirir - condição dependente somente da situação enunciativo-discursiva, onde enunciador e enunciatário explorarão as possibilidades semióticas da linguagem.

(...) o leitor é aquela personagem que está no palco (mesmo clandestinamente) e que sozinha ouve o que cada um dos parceiros do diálogo não ouve; sua escuta é dupla (e, portanto, virtualmente múltipla). (...) Essa imaginação de um leitor total - quer dizer, totalmente múltiplo, paragramático - tem talvez uma coisa de útil: permite entrever o que se poderia chamar de Paradoxo do leitor; admite-se comumente que ler é decodificar: letras, palavras, sentidos, estruturas, e isso é incontestável; mas acumulando as decodificações, já que a leitura é, de direito, infinita, tirando a trava do sentido, pondo a leitura em roda livre (o que é a sua vocação estrutural), o leitor é tomado por uma inversão dialética: finalmente, ele não decodifica, ele sobrecodifica; não decifra, produz, amontoa linguagens, deixa-se infinita e incansavelmente atravessar por elas: ele é essa travessia. (BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.41)

Conceber a idéia da existência de um leitor total, livre de condicionamentos e previsto no processo composicional, leva-o a desempenhar o papel onipresente de um expectator que, mesmo virtual, interage e participa do que lê, e é o único sujeito no contexto de enunciação que tudo pode saber. É aquele cujo autor não detém domínio algum; daí, infere-se o referido "Paradoxo do leitor", que estende o ato de leitura como acúmulo, para além da decodificação da superfície textual. A cada leitura, seja do mesmo texto, seja de um texto completamente novo, independente dos graus de dificuldade, há sempre uma descoberta dentro de um processo de produção e criação de sentidos que corre ad aeternum: é o amontoado de linguagens, é a sobrecodificação. Na observância deste aspecto, vemos o leitor total como a travessia da linguagem. 

Lendo um texto referido por Stendhal (mas que não é dele), encontro nele Proust. (...) Alhures, mas da mesma maneira, em Flaubert são as macieiras normandas em flor que leio a partir de Proust. (...) Compreendo que a obra de Proust é, ao menos para mim, a obra de referência, a mathesis geral, a mandala de toda cosmogonia literária - como o eram as cartas de Mme de Sévigné para a avó do narrador, os romances de cavalaria para D. Quixote, etc; isto não quer de modo algum dizer que sou um "especialista" de Proust: Proust é o que me ocorre, não é o que eu chamo; não é uma "autoridade"; é simplesmente uma lembrança circular. (BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2008. 2 reimpr. da 4 ed de 2004, pp.44-45)

Neste fragmento, retirado de obra cuja teoria elaborada dedica-se a elucidar questões sobre o processo composicional – e.g. a fruição e o prazer do texto e no texto –, levanta-se a questão da “sombra” que, no entendimento de Roland Barthes, é inata e necessária a todo texto de fruição. Trata-se da “mathesis geral” do texto, seus antepassados, sua história e identidade, sem a qual o texto não se realizaria substancialmente. O texto, em si, não afirma escancaradamente suas raízes ao leitor, bem como não as notamos no conteúdo do mesmo; o que ocorre é uma sugestiva alusão às referências basilares perceptíveis através dos mais diversos pormenores: traços estilísticos específicos como tons de linguagem e tratos de enredo, preferências de temática ou gênero literário. Assim, compreende-se como D. Quixote alude, mas não se iguala, aos romances de cavalaria, ou Proust ocorre ao leitor ao ler o texto referido por Stendhal. É a “lembrança circular” do ato de leitura, que parte do presente, retoma o passado e retorna ao presente, realizando-o.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sexo

O Sexo ácido de André Sant’Anna pode nada ter de atraente e excitante, pelo menos nos termos sensuais reconhecidos pelo senso comum. Em seu livro, o espaço de intimidade entre casais que se amam, quartetos de amantes – e cocaína –, ou, ainda, apenas amigos que apreciam algumas porções de pornografia, calabresa e provolone à milanesa, transmuta-se num grande divã social por onde desfilam os traços mais mal-acabados e desumanos do perfil da atualidade; relativizam-se os valores, evapora-se a solidez de quaisquer relações sociais, e, neste início, achata-se a pirâmide hierárquica da sociedade, quando, de repente, vencedores e perdedores da corrida diária pelo sucesso, encontram-se juntos, apertados num elevador de shopping center, onde começa a narrativa.


Enquanto o Ascensorista De Bigode cochila ao som dos da-das e du-du-dus de Ray Conniff, orações coordenadas, predominantes na narrativa, atribuem rapidez à tessitura textual, e nos remetem à pressa cotidiana, apresentam-nos os protagonistas das pequenas crônicas do dia-a-dia desenvolvidas nos capítulos inominados subsequentes. Como os capítulos, os protagonistas – salvo exceções como, por exemplo, Marcelo, e que, mesmo assim, é apontado como “jovem marido” na primeira menção a sua pessoa – têm seus prenomes e sobrenomes suprimidos e substituídos, junto a suas respectivas personalidades, reduzidos à adjetivação rala e superficial, escrita como nome próprio. Em Sexo, diferente da Gramática Normativa, a adjetivação nomeia e caracteriza.

Ao saírem do elevador, momento em que dividem algo em comum de maneira mais espontânea, e que há a sugestão da existência e substancialidade das relações humanas – os constrangimentos causados pela proximidade levada ao excesso, tais como pisadas nos pés, cotovelos que tocam seios alheios maliciosa e intencionalmente, e pênis acanhados que se encaixam entre as bandas de mães de bebês babões –, as personagens espalham-se. Curioso movimento. Como portadores de males sociais, dispersam-se exclusivamente no intuito inconsciente de promover a epidemia moral sofrida pela sociedade, grande crítica de Sexo. O ato de ser, em Sexo, ganha, assim, um novo significado.

O trabalho com estereótipos e crenças baseadas em traços culturais desenvolve linhas de raciocínio que auto-criticam a conduta social, induzindo as personagens sempre a situações por vezes previsíveis, e outras não, mas quase todas tragicômicas. Duas delas, por exemplo, contrapõem-se ao levantar a questão racial junto a sócio-econômica: a do Negro, Que Fedia e a do Negro, Que Não Fedia – mas que um dia já fedeu. O primeiro, pobre, sustentado por um subemprego e sexualmente reprimido pela sociedade por sua aparência grotesca, condição imposta pela miséria, excita-se com revistas pornográficas que lhe proporcionam, em fantasia, momentos que a realidade, diante das condições, jamais cederia. Um abismo profundo entre o desejo e a sua realização. Seu sonho restringe-se a desejar a Trocadora Do Ônibus No Qual Ele, Negro, Que Fedia, Voltava Para Casa Todos Os Dias, Às Seis Horas Da Tarde, que também era negra, e cuja aparência estava longe da socialmente celebrada. Para, porém, aproximar-se da Trocadora, sem correr o risco de apanhar de seu filho violento, o pobre Negro, Que Fedia, teve de converter-se à igreja. Hipocrisias à parte, são valores culturais de extrato social. O sexo feito pelos dois, celebrado pela entrega a Cristo, ao final do livro, assim como o casal, também fedia.

Há outro “tipo” de negro, em Sexo, o chamado Negro Que Não Fedia. Este era astro internacional de reagge, que não só faz sexo com suas esposas negras e que também não fediam, como também fizera sexo com a Apresentadora do Programa de Variedades Da Televisão, Que Era Loura. A cena de sexo entre os dois mostra a clássica e bem-vista idéia do negro embranquecido. Cito:

A boca da Apresentadora Do Programa de Variedades Da Televisão, Que Era Loura, deslizando pelo pau do Negro, Que Não fedia, caso fosse fotografada naquele instante, poderia fazer parte de um moderno ensaio fotográfico erótico em preto-e-branco, digno dos mais sensíveis fotógrafos de arte. Esse possível ensaio fotográfico seria editado em capa dura coberta por acetato, onde o nome do fotógrafo e o título Contrastes estariam impressos com tipologia Helvética. (SANT’ANNA, p.221)

Há, portanto, de acordo com a idéia cultural de relação entre pessoas ditas brancas e negras, certa beleza neste contraste. Porém, isto só ocorre porque o negro em questão não é o Negro Que Fedia. O Negro, Que Não Fedia, já vivera uma infância pobre como negrinho fedorento, e, à semelhança do Negro Que Fedia, também passou por uma conversão, neste caso, para deixar de feder: tornou-se adepto do imperador etíope, Hailé Selassié – o Leão de Judá, tido como símbolo religioso, cujo legado consiste em liderar os negros de volta à África. No entanto, no ápice do processo de embranquecimento, O Negro Que Não Fedia, ludibriado pela luxúria exalada da alva carne da Apresentadora,

(...) não podia mais crer no paraíso afro-bíblico do imperador etíope Hailé Selassié – o Leão de Judá. O Negro, Que Não Fedia, não queria retornar à África. Então, o Negro, Que Não Fedia, entregou seu coração aos irmãos Warner. (SANT’ANNA, p.227)

Ao final, revela-se, implacavelmente, a igualdade étnica entre ambos os negros e que a sociedade insiste em negar: após o sexo, O Negro, Que Não Fedia, fedia (SANT’ANNA, p.227).

Outras personagens que tecerei alguns comentários, tendo em vista os estereótipos que carregam, são A Secretária Loura, Bronzeada Pelo Sol, as duas Noivas Louras, Bronzeadas Pelo Sol e a Gorda Com Cheiro de Perfume Avon.

As duas primeiras, similares em aparência e preferências de parceiros sexuais, fazem sexo com executivos, homens poderosos ou prósperos – sejam eles de óculos Ray-Ban, casados com esposas com mais de quarenta anos e uma pelanca no rosto, ou, jovens executivos de gravatas variáveis. A Secretária, cujo papel social, dentro da lógica crítica do livro, é servir de amante, tem sua maior aparição numa cena de suingue a quatro pessoas, e é classificada como a mais depravada. Neste sentido, diferem as duas Noivas, quando, em suas respectivas, idênticas e concomitantes cenas de sexo, sofrem com as tentativas falhas de seus noivos, Executivos cujas diferenças estão nas gravatas, de tentar “apimentar a relação”, baseados no que leram numa revista sobre homens e mulheres. O foco crítico, neste caso, centra-se na influência midiática na vida das pessoas, independente de se tratar de momentos frívolos ou íntimos, como o ato sexual. O conceito de amor como sentimento por outrem por suas características únicas também é jogado por terra. Ambos os Jovens Executivos dizem amar suas noivas, porém, ao final do capítulo, após o término de seus respectivos noivados, acabam, por fim, trocando de noivas – a rigor, mulheres exatamente iguais.

Possivelmente, o extremo oposto das senhoras citadas anteriormente é a Gorda Com Cheiro De Perfume Avon, e a análise que dela se pode fazer tangencia, inevitavelmente, suas práticas sexuais. A Gorda não é uma mulher que ama, bem como também não é desejável pela maioria esmagadora dos homens, pois não se enquadra nos padrões de “beleza-objeto”, loura e bronzeada pelo sol. Seu nome peculiar define-se após sua primeira aparição, quando o autor afirma que, no elevador, ela “fedia” a perfume Avon, depreciação baseada na idéia de um “perfume que não perfuma”. É possível, então, assumir que as louras bronzeadas pelo sol, que definitivamente não são gordas, não usariam o perfume Avon, caso contrário seriam nomeadas de outra forma.

A Gorda Com Cheiro de Perfume Avon, para satisfazer seus desejos sexuais, levava o Chefe da Expedição da Firma, da firma onde trabalhava, para comer calabresa e provolone à milanesa, e, seguidamente, ir com ela a um motel. Ambos não sentiam atrações sexuais arrebatadoras um pelo outro, porém, como marginais da opressão estética vigente, definiram como tal a sua relação. A falta de sorte, segundo o narrador, da Gorda, era nunca ter esbarrado com a minoria masculina que se sente atraída por mulheres gordas: neste caso, o japonês da IBM. Minoria curiosa, um homem poderoso como os executivos, mas que, por fazer parte justamente do grupo que culturalmente se conhece pelas dimensões pequenas do pênis, não é chamado de Executivo. As fantasias sexuais do Japonês Da IBM são ocultas, pois não compartilha com a maioria masculina o gosto por mulheres louras, bronzeadas pelo sol. A crença na importância do tamanho do pênis é uma das mais populares em nossa cultura urbana. Cito o parágrafo de SANT’ANNA dedicado somente a esta reflexão:

O pau do Negro, Que Não Fedia, era maior que o pau do Jovem Executivo De Gravata Vinho Com Listras Diagonais Alaranjadas, que era mais ou menos do mesmo tamanho que o pau do Gerente de Marketing Da Multinacional Que Fabricava Camisinhas. O pau do Negro, Que Fedia, era maior que o pau do Negro, Que Não Fedia, que o pau do Jovem Executivo De Gravata Vinho Com Listras Diagonais Alarajadas, que o pau do Executivo De Óculos Ray-Ban e que o pau do Gerente de Marketing Da Multinacional Que Fabricava Camisinhas. O menor de todos era o pau dO Adolescente Meio Hippie. (SANT’ANNA, p.157)

O pobre Adolescente Meio Hippie, tão jovem, já é atormentado por esta convicção masculina. Prestes a ter sua primeira experiência sexual, numa viagem planejada com sua namorada amada, A Adolescente Meio Hippie – que, talvez por ser só meio hippie se permitisse ler a revista Capricho, voltada para adolescentes nada hippies –, O Adolescente estava nervoso, pois a Adolescente poderia achar seu pênis pequeno demais.

Uma injeção de sarcasmo que mostra como pode haver a possibilidade real, no imaginário de um adolescente de 16 anos, de sua potencial primeira parceira sexual, uma adolescente de 14 anos, virgem, poder ter algum padrão de referência que a levasse a julgar o pênis de seu primeiro parceiro pequeno demais. É a extrapolação da superficialidade levada ao ridículo: a maior preocupação da Adolescente, que logo passa, é a possível dor que pode vir a sentir.

Quando finalmente os dois vêem-se juntos, dentro da barraca de camping, e praticam o sexo constrangedor porque incipiente, o narrador surpreende-nos quando afirma: O pequeno pau dO Adolescente Meio Hippie estava duro (...) (SANT’ANNA, P.274). Portanto, o medo do Adolescente concretiza-se na realização do ato: seu pênis é, de fato, pequeno demais.

O Adolescente frustra-se porque acha a Adolescente “muito paradona”, provavelmente porque ela achara seu pênis pequeno. O inesperado de qualquer piada vem fechar o quadro: o Adolescente, que sonhava em ser músico e viver na Jamaica fumando maconha, sai da barraca nu, com seu saxofone, e começa a tocar “All Blues” de Miles Davis. Neste momento, Dentro da barraca, nua, A Adolescente Meio Hippie percebeu que o Adolescente Meio Hippie era bem ruinzinho ao saxofone. (SANT’ANNA, p.276)

Destarte, o sexo das planas personagens de Sexo desvela a intimidade de uma sociedade cujos laços afetivos afrouxam-se e dão lugar ao mero suprimento de necessidades físicas do universo imaginário da rapidez, da propaganda, do descartável e da volubilidade geral do presente civilizado. A própria macroestrutura da narrativa – apresentação de personagens e as respectivas cenas de sexo –, pode ser vista analogamente como alegoria do funcionamento destas relações.


D.M.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Estorvo: uma leitura inquieta

O primeiro romance de Chico Buarque se desenvolve sobre um enredo tenso, disforme, incerto e aflitivo, que é apresentado ao leitor pelos olhos – e pensamentos – de um personagem inominado, igualmente disforme e livre de apresentações formais, o que mais imprime à leitura a sensação de penetrar o psicológico desta primeira pessoa que narra e que, logicamente, neste processo, não se ocuparia em apresentar-se a si mesma; é neste pensamento que somos imersos em Estorvo (BUARQUE, 1991), cujo título, aliás, se mostra necessário e suficiente para resumir, em todas as instâncias, o personagem, que protagoniza e motiva as desventuras e peripécias apresentadas.


Através do olho mágico

A primeira cena do romance já mostra – e demonstra – claramente que a nitidez da realidade é inconstante e que aquilo que se infere, ainda que não seja fato, pode influenciar a existência e movê-la até mais do que os próprios fatos. Os olhos deste homem, que é um nítido antagonista da realidade e da sobriedade, enxergam, não além da razão, mas apesar dela, como que em paralelo a ela, desconsiderando os parâmetros racionais da realidade e reconstruindo a realidade através de seus próprios parâmetros.
O olhar do personagem, particular a ponto de relativizar a realidade e possibilitar a aceitação de uma outra, singular, própria, de acordo com sua percepção e seu juízo, este olhar observa o mundo e cria uma vida diferente da real, um sentido por entre esta realidade, preenchendo lacunas com pensamentos e deduções que seguem uma lógica própria e fazendo destes delírios sua realidade. Atenho-me na definição deste olhar, pois é ele – junto com suas atitudes, que nada são além de reações deste olhar - que dá a transparecer ao leitor a impressão do personagem sobre o mundo em que vive, e compõe a obra, filtrando, reanalisando e apresentando este singular mundo recriado.
O caminho percorrido e narrado pelo personagem é iluminado pela desconfiança e, a cada episódio, salta aos olhos aquilo que, de uma cena, ficaria no fundo, seria obumbrado pela trama principal e minguaria, como a composição de um cenário que se perde na narrativa. Esta atenção psicótica conferida a elementos aparentemente irrelevantes inquieta o personagem, que, aficionado pelo mínimo das coisas, encontra conflitos nas mais simples situações; conflitos para os quais a verdade bastaria para desvelar as falsas impressões, mas a obra não nos permite julgar as impressões do personagem como falsas ou exageradas; a leitura caminha junto com o personagem, e todo e qualquer leve incômodo acaba por se converter na psicalgia do estorvo, a partir da qual, esta esguelha revela o insuportável no limite das coisas.
O estorvo age no limite ignorado das coisas, exatamente onde há o equilíbrio instável da realidade; e o olhar que pousa sobre este limite, inquieta-se. O ser que desperta da inquietude deste olhar se mostra transtornado de tal maneira que se configura apenas um caminho possível para este observador incauto: ele é forçado por seu próprio olhar a viver no limite, das coisas, das pessoas e da própria razão. É o homem que vive à margem, não da sociedade, mas da vida; o personagem vive à margem da família, das relações sociais e dos sentimentos, a tal ponto e de tal maneira que, seguindo o fluxo de suas ações aparentemente comuns a ele e rotineiras, se faz patente o deslocamento de sua posição na realidade em si.
Dentro deste ser único, singular em suas anomalias psicóticas, é que somos convidados a percorrer a trajetória do livro; através da tortuosidade do olho incauto e rude do personagem, somos levados a sentir a inquietude do estorvo da vida. E, este mesmo homem, cujo olhar pousou sobre o equilíbrio instável da realidade, se torna, ele próprio, o limite do homem sob os olhos do outro, de modo a se configurar, ele mesmo, a figura física, real e palpável do estorvo; uma figura tanto mais incômoda e, por consequência, menos ignorável que o limite insólito e tênue das coisas pequenas – ou, talvez, apequenadas por olhos que simplesmente não se atormentam com os efeitos de um olho mágico.


Um abalo inabalável

Com uma leitura desconfortável, porém, de alguma forma, equilibrada neste desconforto e paradoxalmente suave e despreocupada, o leitor é levado a caminhar com este homem e, através de seu olhar, conhecer sua psique e suas psicalgias, frutos e reflexos da inquietude e da instabilidade do estorvo da vida. O personagem vive a permanente suspeição da realidade e, como que vítima de uma conspiração do mundo, ele foge, abalado e atordoado, de tudo o que existe, com tamanho ímpeto e determinação, que, ao adentrar seu refúgio, permite-se a sensação de entrar para fora, como alguém que escapole para o oco do mundo.
Seu abalo é constante e pleno; não há nada que resgate a sensatez do personagem e o traga de volta a realidade. É o abalo esquizofrênico de um estorvo somente percebido por ele, de um mal somente denunciado por seu olhar e que segue, existindo, ainda que somente para ele. Mas é justamente para ele que a aflição do mundo existe e se revela em todo e qualquer espaço; e é nele, no personagem, que se manifesta para o mundo o incômodo de uma existência torpe, que interfere na ordem de tudo o que toca, que não é descartável, que não acaba e não se pode separar em um canto da realidade. O abalo do personagem é o único elemento fixo, incorruptível e inabalável.
Há um momento da narrativa a partir do qual é possível ler para além da cena descrita; é possível fazer, por meio desta passagem, uma leitura resumida da consciência do personagem e de seu posicionamento perante tudo. É a revelação de uma realidade que o expele, que se incomoda com sua existência e luta para lhe negar enquanto, paradoxalmente, nutre com piedade e asco, sua vida, que é a revelação de um existir oposto à regra, na contra-mão do mundo.

O carro da polícia, de tanto forçar passagem, acaba dando um nó no tráfego. Cantando e girando sem sair do lugar, sua sirene mais parece uma propaganda. A calçada não comporta mais tanto público, que acorre das transversais e não gosta de me ver querendo avançar no sentido oposto. Vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão. Ando prensado contra os muros, até ser expelido pela porta frouxa de um tapume. (BUARQUE. 1991 pp. 106)

M.A.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Contra a Interpretação

O conteúdo é o vislumbre de algo, um encontro, como um flash. É muito pequeno, pequeníssimo o conteúdo.
WILLEM DE KOONING, em entrevista

Somente gente rasa não julga pelas aparências. O mistério do mundo está no visível, e não no invisível.
OSCAR WILDE, em carta


COMENTÁRIO

E esta mania intelectualóide? "Fulano é especialista na presença do jacaré-de-papo-amarelo em literaturas ítalo-indianas". O nome é tão metido a besta, enorme a ponto de no final esquecermos do início, a especialidade tão específica - a ponto de só um sujeito se interessar por ela -, que o indivíduo se consagra por falar tudo sobre nada. Às vezes tenho a impressão de que em Épico e o romance, há um pedido bahktiniano para deixarmos a preguiça de lado. No século XIX, por razões histórico-filosóficas, chamávamos "enciclopédicos". No XX e XXI, vaidosos.
D.M.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sobre o cânone

"As grandes poéticas orgânicas do passado - de Aristóteles, de Horácio e de Boileu - são marcadas pelo profundo sentimento da literatura como um todo e da harmoniosa composição de todos os gêneros nesse todo. Tais poéticas como que parecem ouvir concretamente esta harmonia de gêneros. Nisto está a força, a plenitude, incomparável e íntegra, e o caráter exaustivo destas poéticas. Todas elas, sistematicamente, ignoram o romance. As poéticas científicas do século XIX eram privadas dessa plenitude: elas eram ecléticas, descritivas, aspiravam não a uma totalidade viva e orgânica, mas a algo abstratamente enciclopédico, orientavam-se não para a efetiva possibilidade de uma coexistência de gêneros definidos, para a entidade viva da literatura relativa a uma certa época, mas para a coexistência deles dentro de uma antologia tão completa quanto possível. Naturalmente elas não ignoravam o romance, mas simplesmente o colocavam (em lugar de honra) junto aos gêneros existentes (assim, como um gênero no meio de gêneros, ele também entra numa antologia; mas no conjunto vivo da literatura, ele entra de uma forma totalmente diferente)."

terça-feira, 25 de agosto de 2009

ESTUDO ABERTO de "Epos e Romance"


EPOS E ROMANCE
(Sobre a metodologia do estudo do romance)

"O estudo do romance enquanto gênero caracteriza-se por dificuldades particulares. Elas são condicionadas pela singularidade do próprio objeto: o romance é o único gênero por se constituir, e ainda inacabado. As forças criadoras dos gêneros agem sob os nossos olhos: o nascimento e a formação do gênero romanesco realizam-se sob a plena luz da História. A ossatura do romance enquanto gênero ainda está longe de ser consolidada, e não podemos ainda prever todas as suas possibilidades plásticas. (...)"

Mikhail Bakhtin - 1941




Estudo aberto:

ESTUDO ABERTO - Mikhail Bakhtin


Mikhail Mikhailovitch Bakhtin (1895-1975)

::A Obra por períodos::


Círculo de Nevel/Vitebsk: 1918 - 1924
1918 - "Arte e responsabilidade" (1912) in O Dia da Arte (Jornal de Nevel)
1924 - "Autor e herói na atividade estética"
1924 - "A questão do autor"
1924 - "O problema da relação do autor com o herói"
1924 - "A forma espacial do herói"
1924 - "O problema do conteúdo, material e forma na criação artística"

Círculo de Leningrado: 1925 - 1930
1925 - "Salierismo acadêmico" Bakhtin/Medvedev
1925 - "Para além do social" Bakhtin/Volosinov
1926 - "Sociologismo sem sociologia" Bakhtin/Medvedev
1926 - "O discurso na vida e o discurso na arte" Bakhtin/Volosinov
1927 - "Freudismo: um esboço crítico" Bakhtin/Volosinov
1928 - "O método formal no estudo literário: uma introdução à poética sociológica" Bakhtin/Medvedev
1928 - "As últimas tendências no pensamento linguístico no Ocidente" Bakhtin/Volosinov
1929 - "Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na Ciência da Linguagem" Bakhtin/Volosinov
1929 - Problemas das obras criativas de Dostoiévski
1930 - Reedição de "Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na Ciência da Linguagem" Bakhtin/Volosinov
1930 - "A estilística da fala em arte" Bakhtin/Volosinov
1930 - "Nos limites da poética e da linguística" Bakhtin/Volosinov

Censura e alijamento: 1930 - 1945
1934 - "Discurso no romance"
1934 - "O discurso na poesia e na prosa"
1936-38 - "O romance pedagógico e sua significação na história do realismo"
1937-38 - "Formas do tempo e o cronótopo no romance"
193?-4? - "Sobre as bases filosóficas das ciências humanas"
1940 - "Da pré-história do discurso romanesco"
1940 - "F. Rabelais na história do realismo"
1941 - "Épica e Romance (para umametodologia para o estudo do romance)"

Retorno e reconhecimento: 1945 - 1975
1952-53 - "O problema dos gêneros locutivos"
1954 - "Maria Stuart"
1959-61 - "O problema do texto em linguística, Filologia e outras Ciências Humanas: uma tentativa de uma análise filosófica"
1961 - "Sobre a revisão do livro acerca e Dostoiévski"
1963 - "Problemas da poética de Dostoiévski"
1965 - "A obra de François Rabelais e a cultura popular na Idade Média"
1970 - "Rabelais e Gogol (A arte do discurso e do humor popular)"
1970 - "Resposta a uma questão colocada pelo Conselho Editorial de Novy mir (Façam uso mais arrojado do potencial)"
1970-71 - "Sobre a natureza polifônica dos romances de Dostoiévski"
1970-71 - "Dos cadernos de notas de 19710-1971"
1975 - "Questões de Literatura e Estética (reunião de textos dos anos 30)"

Póstumo (após 7 de março de 1975)
1979 - "A estética da criação verbal"


NOTA: Esta lista é um rascunho e não é garantida a fidelidade dos dados aqui expostos.
Esta página sofrerá alterações.

domingo, 10 de maio de 2009

Morto e enterrado

Por Marcelo Aceti

Título do filme! apenas o título, nada mais; sem qualquer outro contato com a obra, e uma voz de esperança e clamor tomou-me a mente de imediato. Pareceu-me - por que não dizer? - religioso: o clamor de miseráveis que, em uma terra de sofrimento e penúria, aguardam a epifania de seu Salvador. 

"NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS"

Com esta impressão inicial, fui ao filme.

Eistein, Gagarin e Dr. Freud; Picasso, Nijinski, Chanel; Elvis Presley, Fred Astaire, Josephine Baker; Mané Garrincha... Kafka e Maiakovski. Estes nomes me saltaram diante dos olhos ao assistir pela segunda vez à "Memória do Breve Século XX". Sim, esta foi minha segunda impressão, depois de as chocantes imagens de guerra deixarem de ser tão agressivas quanto da primeira vez em que as vi - sei que esta reação em mim é também fruto do século XX, que banalizou os terrores a ponto de normalizar o absurdo. Fiquei chocado diante de mim ao notar que as impresões deixadas pelo primeiro contato com o filme traziam uma nova significação do título e rompiam com o preconceito que eu criara: Mao, Adolf, Joseph, Kamikase, Vietnã, Enola Gay, inferno... Tudo isso, composto com as tomadas no cemitério, deixa bem claro que o século XX, enterrado em suas desgraças, debocha dos que seguem crendo que algo possa ser diferente do que ele testemunhou.

À aceitação da fatal derrota, prefiro a dúvida; a insegura e instigante dúvida. A incerteza criativa do porvir, que me faz pensar o passado e acreditar no aprendizado e na sabedoria do mundo, feita de gerações e gerações de erros, de sucessões de tentativas; um longo caminho galgado a grandes passos; passos, por vezes, um tanto maiores do que nossas humanas pernas seriam capazes de dar. É a ilusão tola do poder das armas, da vã tentativa de mostrar-se grande diminuindo o que o cerca, calando as vozes sensatas dos livros em fogueiras de ignorância, usando de ignomínia para impor valores de honra. O homem de sunga desperta, além de algumas risadas, uma séria reflexão sobre a seqüência "paranóia" me fazendo entender que não há como delinear maiores distinções entre os intentos deste e dos que o precederam. Todos vítimas de seus valores; vítimas e carrascos.

Findo o século, aceitando que somos carrascos e vítimas de nossos valores, penso que devemos revê-los para darmos passos melhores, ainda que menores. Porém, tendo como panorama o que restou deste século morto, passos menores parecem ser muito mais firmes, e, ainda assim, nada impede que sejam muito mais ousados, pois a força que os impele traz consigo a experiência do tempo vivido, a sabedoria do mundo passado. Aprendamos enquanto estivermos vivos, pois é com nossa morte que ensinaremos.

Após assistir ao filme - algumas vezes - e refletir sobre sua composição, penso que cada século é a semente do tempo seguinte. E não há melhor destino para uma semente que estar morta e enterrada...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estamos, meu bem, por um triz...

Por Marcelo Aceti

Pequena crítica do filme PRO DIA NASCER FELIZ.
(clique aqui para acessar a página do filme)
(clique aqui para assistir ao filme pelo Google Vídeo)


Assistindo ao filme, resolvi buscar algumas informações na página eletrônica que hospeda suas informações e confirmei algumas suspeitas. Longe de dizer que o documentário é um mau trabalho; ele simplesmente, sob meu ponto de vista, não é satisfatório no que diz respeito a sua proposta - apresentada na sinopse. Primeiro que não há meio de registrar o ambiente escolar "sem exercer interferência direta", ainda mais quando uma câmera passeia livremente pelos corredores, interrompe aulas, e uma equipe direciona as falas dos entrevistados, faz perguntas e conduz para que tudo flua 'bem'. Segundo - e, para mim, mais importante - é que, ainda que o diretor diga: "Eu não acredito muito em roteiro para documentário. Eu acredito em um roteiro de idéias.", o filme é conduzido, sim, por um roteiro que joga com estereótipos para transmitir uma mensagem.

Fugir do estereótipo dos estudantes de escolas públicas, apresentando a vida e a obra de Valéria, a poetisa sertaneja de 16 anos eo carioca de Duque de Caxias Deivison Douglas, salvo pelos tambores da música afro, e, depois, firmar o estereótipo de alienadas, egocêntricas e desumanas filhinhas-de-papai do bairro rico da capital, que pensam em todos como iguais - filosoficamente - e que até gostariam de contribuir para um mundo mais justo, não fosse o fato de, para isso, terem de abrir mão de suas aulas de natação; tudo isso é um roteiro maquiavélico que comove e leva à reflexão de alguns pontos. Pontos que, para mim, não são os mais importantes.

Após a divulgação do documentário, a escola de Manari recebeu verbas para reformas e passou a oferecer, também, o Curso Normal. A escola reformada aparece ao fim da filmagem e alguns depoimentos mostram que, apesar de a reforma ter sido feita, há poucos professores e a estrutura de manutenção não funciona. Ou seja, foi feito o que 'aparece' a curto prazo, para que o documentário não fizesse uma denúncia grave que não fosse respondida, mas o problema apenas trocou de lugar. Vendo o que esta reforma expõe, penso: Será que devemos fazer documentários com todas as escolas, para que sejam reformadas?

A cena do conselho de classe revela mais do que uma triste realidade; mostra que a educação sofre de algo mais que problemas crônicos: é uma deficiência institucional. Ao questionar sobre a possível aprovação de um aluno, que o levaria para o Ensino Médio, uma das professoras - Vera Lúcia - é contra, alegando: "(...) ele vai ser um problema no 1º ano. Ele vai ser; ele não sabe escrever." O problema não é o aluno, mas sim a escola que faz com que ele seja aprovado anos e anos sem desenvolver capacidades básicas, necessárias a todas as disciplinas. A declaração da professora Suzana resume a problemática e levanta uma questão importante, complexa e que muitos - quase todos - preferem evitar, que é a necessidade de revermos o paradigma da escola: "Eu não acredito na escola nos moldes em que ela existe, sabe?! na função que ela tem. Eu acho que ela tinha que ser repensada(...) Ela não cumpre mais a sua função."

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

1 milhão para a melhor das niilidades

Por Marcelo Aceti

"Como assim você não assiste ao BBB?"

Assim mesmo, não assistindo! é uma opção. Vocês não me vêem pelos elevadores e filas de banco e faculdades e colégios e pontos de ônibus dizendo:"Como assim você não lê Dostoiévski?" ou "De qual planeta você veio, que não sabe quem é Tolstói?" E olha que esses questionamentos são muito mais plausíveis. 

Reclamam que a programação da TV é ruim, mas continuam assistindo a programas ruins. E quando questionados sobre o porquê de assitirem, dizem: "não tem nada melhor passando"... 
Só continua "passando" porque assistem.

Eu tenho o direito de não gostar de um programa. Não sou obrigado a "estar por dentro de tudo o que rola na Telinha". Há tantos canais e tantos programas passando ao mesmo tempo, eu tenho o direito de escolher não assistir a uma novela tal, ou a um BBB qualquer. EU POSSO preferir a TV desligada a deixá-la passando qualquer coisa ou sentar na frente da TV "só pra ver o que está passando". 

E essa história de que "não tem nada melhor" é só história. Sempre tem algo melhor: livros são algo melhor; pessoas são algo melhor; trabalhar é algo melhor. Que tal, em vez de perder 3 ou 4 horas de nosso dia babando diante desta caixa colorida, dedicarmo-nos mais à outras coisas; coisas para as quais, inclusive, dizemos que não temos tempo.

É impressionante ver o quão trabalhadores somos e o valor que damos ao nosso tempo. Creia-me, é inversamente proporcional aos pontos de IBOPE de um Reality Show. Passeando na internet, encontramos uma infinidade de páginas falando sobre BBB:
Ama ou odeia?
Por que você assiste?
Por que você não assiste?
Sinceramente, se este fosse um programa bom de fato, sequer levantaria este tipo de questão.
Quem gosta e assiste, o faz simplesmente por seguir aquela vontade de saber se - e como - os outros fazem aquilo que só fazemos escondido. E pior: gastam tempo e dinheiro, sim, dinheiro, vendo mais essa novela; se enganam achando que aquilo é verdade.

A TV tem muitos canais e há diversos programas passando ao mesmo tempo. Por que temos de amar ou odiar justamente este? é só mais um programa. Mais um programa feito de acordo com a alienação dos telespectadores. Experimente desligar a TV e só ligar quando VOCÊ quiser; se pararmos para pensar, a televisão não precisa estar ligada sempre, nós sim!


Em breve começa mais um Big Brother Brasil... Boa leitura!