Brevíssima reflexão sobre a Crítica Textual e textos da Antiguidade
A crítica textual desenvolve atividades que surgem como um resgate possível de textos cuja fidedignidade foi sujeitada à corrupção através do tempo. Trata-se de obras que, até mesmo pelo modo de transmissão de textos, seguiram seu curso pela história sendo desvirtuadas, deturpadas ou, até mesmo, "corrigidas" por aqueles que, justa e ironicamente, eram os responsáveis por sua conservação.
Neste cenário, até hoje nebuloso, encontram-se problemas e, até mesmo, impossibilidades para o trabalho do crítico textual. A busca por manuscritos na intenção de basear as edições em textos próximos do autor não é, sem grandes ressalvas e considerações, uma solução simples e, por vezes, sequer possível, já que, quando tratamos de textos da antiguidade, tratamos de um ambiente no qual toda e qualquer edição era, por assim dizer, manuscrita.
Outro impedimento para um inicial trabalho de pesquisa e posterior estabelecimento de um texto crítico é a escolha do texto-base que nortearia os trabalhos. Há que se considerar todas estas questões da transmissão do texto (condições de preservação física dos livros, idoneidade do trabalho do copista, etc.) e ainda fazer valer a barreira do idioma original de composição da obra pesquisada, tendo em vista o desvio que se comete nas escolhas feitas no processo de tradução.
Portanto, na busca para recuperar as histórias de povos, seus conhecimentos e sua arte através dos registros escritos que conseguiram atravessar épocas, é inevitável tomar ciência do trabalho do copista, a quem tanto se deve e de quem tanto se deve desconfiar, sem os quais não haveria a disponibilidade de tão ricas obras, mas também sobre os quais se depositam divergências e corrupções destas mesmas obras.
A busca do melhor texto possível de se estabelecer e restaurar deve estar vinculada a este sério trabalho de pesquisa e recenseamento das versões, edições, traduções e até mesmo citações de fragmentos de um texto em outro, para que se possa configurar um panorama da existência deste texto e dos caminhos percorridos por ele através do tempo. Somente partindo desta ampla pesquisa se pode reconhecer uma ou outra edição de um texto como base sobre a qual o trabalho de restauração da obra tornar-se-á possível.
M.A.