segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estamos, meu bem, por um triz...

Por Marcelo Aceti

Pequena crítica do filme PRO DIA NASCER FELIZ.
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Assistindo ao filme, resolvi buscar algumas informações na página eletrônica que hospeda suas informações e confirmei algumas suspeitas. Longe de dizer que o documentário é um mau trabalho; ele simplesmente, sob meu ponto de vista, não é satisfatório no que diz respeito a sua proposta - apresentada na sinopse. Primeiro que não há meio de registrar o ambiente escolar "sem exercer interferência direta", ainda mais quando uma câmera passeia livremente pelos corredores, interrompe aulas, e uma equipe direciona as falas dos entrevistados, faz perguntas e conduz para que tudo flua 'bem'. Segundo - e, para mim, mais importante - é que, ainda que o diretor diga: "Eu não acredito muito em roteiro para documentário. Eu acredito em um roteiro de idéias.", o filme é conduzido, sim, por um roteiro que joga com estereótipos para transmitir uma mensagem.

Fugir do estereótipo dos estudantes de escolas públicas, apresentando a vida e a obra de Valéria, a poetisa sertaneja de 16 anos eo carioca de Duque de Caxias Deivison Douglas, salvo pelos tambores da música afro, e, depois, firmar o estereótipo de alienadas, egocêntricas e desumanas filhinhas-de-papai do bairro rico da capital, que pensam em todos como iguais - filosoficamente - e que até gostariam de contribuir para um mundo mais justo, não fosse o fato de, para isso, terem de abrir mão de suas aulas de natação; tudo isso é um roteiro maquiavélico que comove e leva à reflexão de alguns pontos. Pontos que, para mim, não são os mais importantes.

Após a divulgação do documentário, a escola de Manari recebeu verbas para reformas e passou a oferecer, também, o Curso Normal. A escola reformada aparece ao fim da filmagem e alguns depoimentos mostram que, apesar de a reforma ter sido feita, há poucos professores e a estrutura de manutenção não funciona. Ou seja, foi feito o que 'aparece' a curto prazo, para que o documentário não fizesse uma denúncia grave que não fosse respondida, mas o problema apenas trocou de lugar. Vendo o que esta reforma expõe, penso: Será que devemos fazer documentários com todas as escolas, para que sejam reformadas?

A cena do conselho de classe revela mais do que uma triste realidade; mostra que a educação sofre de algo mais que problemas crônicos: é uma deficiência institucional. Ao questionar sobre a possível aprovação de um aluno, que o levaria para o Ensino Médio, uma das professoras - Vera Lúcia - é contra, alegando: "(...) ele vai ser um problema no 1º ano. Ele vai ser; ele não sabe escrever." O problema não é o aluno, mas sim a escola que faz com que ele seja aprovado anos e anos sem desenvolver capacidades básicas, necessárias a todas as disciplinas. A declaração da professora Suzana resume a problemática e levanta uma questão importante, complexa e que muitos - quase todos - preferem evitar, que é a necessidade de revermos o paradigma da escola: "Eu não acredito na escola nos moldes em que ela existe, sabe?! na função que ela tem. Eu acho que ela tinha que ser repensada(...) Ela não cumpre mais a sua função."