sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cotas?

por Marcelo Aceti

À época de meu primeiro exame vestibular, havia comentários e rumores sobre como se daria o tal "sistema de cotas" para o ingresso em algumas Universidades. E, desde então, me via incomodado com esta situação.
Não, não me venham apedrejar antes de me lerem o que tenho escrito! Até porque, criticar não significa falar mal, apenas.
Pois bem, tinha um certo incomodo acerca deste tal "sistema" que visava a facilitar, dar acesso e romper barreiras. Quando falo em romper barreiras, a primeira idéia que me vem à mente é "romper as tais barreiras do preconceito". Vejamos:
O sistema, adotado por algumas instituições em seus exames vestibulares, abarcava, em sentido amplo, 2 "grupos"; ou melhor, reservava vaga para dois casos: negros, pardos e indígenas (salvo algum lapso de minha memória) e estudantes provenientes de escola pública. Para mim está claro: a dita "raça" e a origem do estudante.
De início, lembro que este conceito de raça já está cientificamente posto por terra e desconsiderado há muito; questões como esta, de a "raça" influenciar na inteligência, velocidade de raciocínio, poder de abstração e de assimilação de informações, já foram mais que eliminadas - são conceitos rasos da ciência de séculos passados. Somos todos, sim, potencialmente, iguais.
Não vejo onde o índice de concentração de melanina na pele de meus caros colegas pode ser um determinante de suas capacidades intelectuais; acaso um negro não tem capacidade ou potencial para "disputar" uma vaga em igualdade de condições com quem quer que seja, pelo simples fato de ser negro?
Sempre que ouço falar de "vagas para negros" lembro de um colega que estudou comigo desde a Alfabetização até o, então, segundo grau. Negro, plenamente capaz, militar da aeronáutica atualmente. Fez sua prova, entrou entre os melhores e está lá!
Repito: o fato de ser negro, pardo, índio, amarelo ou roxo de bolinhas verdes NÃO DITA SEU POTENCIAL!!!
Que dizer, então, das reservas para alunos orindos da rede pública? Outra farsa!!!
A solução não está em reservar vagas para alunos da rede pública, mas sim em tornar melhor o ensino na rede pública... ou será engano meu? Sim, talvez seja engano meu e o melhor seja mesmo reservar vagas para que alunos orindos da rede pública possam sentir o gostinho de entrasr em uma Universidade... Qual não será o gostinho, também, de se ver jubilado 2 anos após o ingresso. Pois as instituições que divulgam os números dos ingressantes oriundos da rede pública, não acompanham estes alunos parar ver o índice de evasão, desistências e expulsões por reprovações simultâneas em uma mesma matéria (o tradicional "ser jubilado" que, por sinal, nada tem de júbilo...)

Aonde pretendo chegar com isso? (Longe de mim pretender estar plenamente correto em tudo o que falo; apenas lanço questões para que possamos discutir)
Pretendo iluminar o seguinte ponto: Preconceito tamanho é deduzir que certos tons de gente são menos capazes que outros e, para ingressarem em uma Universidade, precisam de cadeiras marcadas. Preconceito absursdo! É chamar o tal "privilegiado" com este sistema de incompetente... Agora, se o problema está no ensino básico, fundamental e médio... Que dizer? Sem palavras... Neste país onde estudar em colégio particular é vantagem; onde o governo não provê as necessidades básicas para seu povo (que paga em dia por todas elas). Realmente, é muito mais fácil separar vagas que capacitar os candidatos.
Não esqueçam: "lá dentro" não tem como você dizer: "professor, quando corrigir minha prova, lembre-se que estou aqui pelo sistema de cotas... tenho aprovação reservada para mim"
Não; na Universidade temos de estar preparados. Temos de ser capazes de cumprir com as exigências. Sem contar com a injustiça que é um candidato com pontuação suficiente não entrar para a Universidade porque algum candidato assegurado pelas cotas tomou seu lugar, mesmo com nota inferior...

O problema das cotas está nas cotas... ela não ajuda ninguém. Ingressar em uma Universidade é algo tanto diferente de ser posto dentro de uma Universidade.
Se alguém aqui defende as cotas, por favor, tente  convencer-me... tente!
Separar vagas para este ou aquele é dizer, sim, que ele não tem capacidade para disputar.
Se um "estudante oriundo da rede pública de ensino" precisa de vagas reservadas para ele, talvez devamos rever a qualidade da "rede pública de ensino".
Mais uma vez: dentro da Universidade, seremos todos cobrados da mesma forma! Todos sairemos! Quem tiver ingressado na Universidade e quem foi posto lá dentro; pode ser que de lá alguns  não saiam formados...